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No Pará, cacau mistura tradição, tecnologia e empreendedorismo para transformar realidades

Em mais uma reportagem da série “Bio Valor: os caminhos da socioboeconomia no Pará”*,

conheça iniciativas, desafios e soluções para a produção do cacau no estado

Noanny Maia, CEO da Cacauaré
Noanny Maia, CEO da Cacauaré

São pelo menos quatro gerações da família de Noanny Maia na produção do cacau. “A minha avó era artesã, já fazia geleias, doces com cacau e meu avô era produtor do fruto. Minha família sempre viveu do cacau”, conta a CEO da Cacauaré, empresa dedicada à produção e comercialização de produtos de cacau nativo, que tem como berço a cidade de Mocajuba, na região do Baixo Rio Tocantins, no Pará.


Apesar da história de vida de Noanny ter cacaueiros e amêndoas como cenário, foi só em 2020 que a vida profissional se encontrou com a produção do fruto. Advogada de formação, Noanny atuava na área do direito, em Belém, quando teve que voltar para a terra natal, Mocajuba, após o pai dela falecer por causa da Covid. Na comunidade, a empreendedora desenvolveu um negócio de impacto social, onde mulheres foram incentivadas a produzir geleias e doces, a partir do mel  de cacau, que antes era apenas refugo da produção. Tudo feito de forma artesanal. “Eu nunca tinha pensado em trabalhar com cacau, mas surgiu a necessidade de administrar a produção. Daí a gente começou a estudar e viu o grande potencial de negócio. A Cacauaré foi criada em 2021 e começamos valorizando a artesania das mulheres, nossos primeiros produtos foram as geleias”, relembra. 


No modelo de negócio, a Cacauaré disponibiliza a matéria prima para as artesãs, que fazem os doces e vendem para a empresa revender as geleias prontas. “Assim a gente ajuda a desenvolver a cadeia do cacau sem derrubar a floresta, fortalecendo os saberes tradicionais no mercado e garantindo renda para estas artesãs”, destaca Noanny. A empresa também fabrica itens como barra 100% cacau, chá, nibs, granola e biocosméticos, a partir do manejo sustentável do cacau nativo plantado em Sistema Agroflorestal. 




Dos saberes ancestrais à inovação

A Cacuaré também aposta no potencial medicinal do fruto. “Eu conheci a medicina do cacau em uma viagem que fiz para a Amazônia peruana. Percebi que a cultura da região era uma cultura muito parecida com a nossa, a diferença é que colonização já nos afastou de nossa cultura original e lá o uso medicinal do cacau ainda é forte. Quando eu vi as mulheres fazendo chá da amêndoa do cacau, eu lembrei que minha avó também fazia quando eu era criança”, conta Noanny. 


Nessa perspectiva, a empresa oferece o cacau cerimonial, bebida usada em rituais de autoconhecimento e cura. No ritual, o cacau é consumido com água quente e especiarias que potencializam o efeito do fruto, permitindo sensação de prazer e bem estar. O cacau cerimonial da Cacauaré é feito com pimenta wai wai, comprada diretamente dos indígenas wai wai, da região de Oriximiná, no oeste do Pará. 


Em 2023, a empresa faturou cerca de R$ 90 mil. Em 2024, esse valor quase triplicou, foram quase R$ 230 mil em vendas dos produtos. Foi neste ano que Noanny recebeu o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios na categoria de Microempreendedora Individual (MEI). Apesar do crescimento, a produção do cacau sofre com o clima, por isso a empresa teve que diversificar os produtos oferecidos, passando a fabricar também artigos de moda, como camisetas e ecobags, para fortalecer a marca. “Como escalar a produção do cacau se a natureza não é escalável? Plantar cacau é o caminho, mas a gente vive em condições climáticas adversas. Os dois anos que passaram, o El Nino influenciou nas secas e prejudicou a produção”, reflete Noanny.


O Brasil e o Pará no cenário do cacau

Em todo o Brasil, a produção também foi impactada. Dados do Centro Internacional de Negócios do Pará (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) mostram uma queda na exportação da amêndoa de cacau no último ano. No país, em 2023, foram exportadas 456 toneladas, enquanto em 2024, foram 131. No estado do Pará, em 2023, foram 250 toneladas de amêndoas exportadas, já em 2024 este número foi reduzido para 55 toneladas.


O Pará é o segundo maior produtor de amêndoa do cacau, responsável por 44% da produção nacional, ficando atrás apenas da Bahia, com 53% desta produção. Os principais compradores internacionais da amêndoa são o Japão e a França. Já o Brasil também exporta para outros países da Europa e para os Estados Unidos. 


Com relação ao chocolate e seus derivados, o Brasil exportou  mais de 41 mil toneladas em 2023,  enquanto em 2024 foram mais de 39 mil. Nesta categoria, o Pará teve crescimento na exportação no último ano, em contramão com os dados nacionais. O estado exportou 11,69 toneladas a mais desse tipo de produto em 2024, 7 toneladas mais em relação à 2023, quando foram exportadas 4,68. Os produtos paraenses foram comprados por países de todos os continentes, sendo o mais vendido  o chocolate recheado, em tabletes, barras e paus. 


A coordenadora executiva do CIN, Cassandra Lobato, conta que o posicionamento do Pará no mercado internacional é fruto dos esforços de várias instituições. “Existe todo um trabalho integrado entre FIEPA, FAEPA, Sedap e outras organizações para promoção comercial, sempre com o intuito de levar os derivados do cacau para o mundo. Um exemplo disso foram as feiras que participamos fora do país no ano passado, como o Salão do Chocolate, em Paris”, ressalta. 

Cassandra Lobato/ Foto: Acervo Pessoal
Cassandra Lobato/ Foto: Acervo Pessoal

Para a coordenadora, a solução é investir cada vez mais na verticalização da cadeia, ou seja, fazer com que todas as etapas de produção do chocolate sejam feitas no estado. “Os derivados do chocolate e do cacau já entram com o valor agregado, por isso precisamos de mais indústrias para processar a amêndoa e diversificar o mix de produtos, principalmente na região da Transamazônica, onde está a maior produção. Mas para isso, também é preciso investir em educação, qualificação, principalmente de mulheres, o cacau é uma cultura que tem um empreendedorismo feminino muito forte”, destaca. 


Para Noanny Maia, CEO da Cacauaré, a solução passa pelo desenvolvimento de tecnologia e fortalecimento das populações tradicionais. “Temos que ensinar a população ribeirinha a manejar com sustentabilidade e investir em tecnologias que melhorem a performance de produtividade do cacau. Há várias pesquisas de laboratórios com melhorias para polinização, com ecotipos de cacau mais resistentes. Mas é preciso incentivo financeiro, apoio técnico e interesse tecnológico”, conclui.


Capacitação e sustentabilidade no Pará

A cadeia produtiva do cacau gera milhares de empregos diretos em todo o país. Somente no Pará, são mais de 300  mil postos de trabalho. Dados da Ceplac divulgados em 2023 mostram que a produção de cacau no Pará envolve mais de  30 mil  produtores, produzindo quase 150 mil toneladas de amêndoa. A maior parte da produção está na região  da Rodovia Transamazônica, que concentra 85% da produção do estado.


Em 2024, segundo a Fazcomex, startup de tecnologia para comércio exterior, o Brasil exportou mais de 50 mil toneladas de cacau em pó, manteiga e pasta, gerando quase 200 milhões de dólares em receita. Só nos cinco primeiros meses de 2025, já foram exportadas mais de 20 mil toneladas. A qualidade do cacau brasileiro também tem reconhecimento internacional. O país recebeu três prêmios no concurso Cacao of Excellence em 2023, incluindo duas medalhas de ouro. Desde 2013, produtores brasileiros figuram entre os melhores do mundo neste ranking.


A sustentabilidade é destaque nessa cadeia produtiva. Os sistemas agroflorestais, especialmente comuns no Pará, são uma das principais formas de cultivo do cacaueiro no país. Desde a década de 1950, o Brasil investe em pesquisa e inovação por meio da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), instituição ligada ao Ministério da Agricultura, para fortalecer o setor.


No Pará, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) incentiva a profissionalização dos produtores e o fortalecimento da cadeia produtiva do cacau. O SENAR mantém seis Escolas Indústria de Chocolate nos municípios-polo de Altamira, Medicilândia, Igarapé-Açu, Castanhal e Tomé-Açu, além de uma unidade itinerante. 

Foto: Divulgação Sistema Faepa/Senar
Foto: Divulgação Sistema Faepa/Senar

Outra frente de atuação são as ações voltadas para educação ambiental e combate à Monilíase, desenvolvidas em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e outras instituições. “Essas ações fortalecem a base produtiva, elevam a qualidade do cacau, promovem a profissionalização e a visão de negócio do produtor rural, abrindo portas tanto para o mercado interno quanto para novos mercados, com a oferta de amêndoas e chocolate de qualidade. Como resultado, toda a cadeia produtiva torna-se mais estruturada e competitiva”, explica a coordenadora de projetos estratégicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), Maria Goretti Gomes.


A coordenadora também destaca que um dos pilares desse trabalho é a capacitação do produtor, com foco na verticalização da produção, serviço que é realizado pela  Assistência Técnica e Gerencial (ATEG). “A ATEG oferece conhecimentos de gestão, permitindo que o agricultor valorize seu produto e desenvolva habilidades de comercialização. O produtor capacitado transforma-se em um multiplicador de conhecimento, beneficiando toda a cadeia. Com a melhoria da qualidade das nossas amêndoas e o incentivo das escolas-indústria, já conquistamos prêmios de reconhecimento nacional e internacional. O estado também ostenta o título de melhor amêndoa do mundo, concedido na Holanda, no Cocoa of Excellence Awards 2024’, ressalta.


O objetivo do sistema é expandir cada vez mais essa produção. “Temos que consolidar o Pará como o maior produtor nacional de cacau, com reconhecimento pela qualidade do produto e pela força da produção. A cada ano, trabalhamos para aumentar em 10% a área plantada, incentivando o uso das melhores técnicas de manejo, novas tecnologias e controle de pragas’, conclui Maria Goretti. 


Iniciativa fortalece a cadeia do cacau e de outras culturas, a partir da agricultura familiar 

Aumentar a cadeia produtiva do cacau também está entre os propósitos da Amazon People. A instituição sem fins lucrativos trabalha na articulação de sistema de apoio para agricultores familiares melhorarem sua renda e terem maior qualidade de vida a partir da agricultura regenerativa, com foco nas culturas do açaí, palma, cacau e andiroba, dentro do Sistema Agroflorestal (SAF). “O Brasil tem um clima incrível, uma estrutura incrível para produzir cacau. A gente produz em algumas regiões, mas a gente ainda importa cacau. Então, a gente entende que tem uma demanda que pode gerar benefícios e garantir renda para essas famílias”, explica Andrea Mendonça, co-fundadora e CEO da Amazon People.


O projeto está em fase inicial, mas pretende promover intercâmbio de conhecimento entre comunidades que cultivam espécies distintas. No caso do cacau, a longo prazo, a proposta é que as comunidades parceiras não só plantem o fruto, mas possam também fazer o beneficiamento da amêndoa. “Vendendo essa amêndoa já beneficiada eles terão uma renda maior, pois ela têm mais valor agregado. E esse é o foco do nosso projeto, melhorar a vida e a renda das pessoas”, destaca Mendonça. 

Andréa Mendonça/ Foto: Acervo Pessoal
Andréa Mendonça/ Foto: Acervo Pessoal

A organização está atuando na região nordeste do Pará e a primeira comunidade atendida é a Vila Jutaí, também conhecida como Colônia Jutaíteua, onde vivem 400 pessoas no Distrito Cairarí, em Moju.  A Amazon People oferece toda a assistência técnica para os agricultores, desde a regularização das terras para obtenção de rastreamento e licença ambiental da propriedade, passando pelo auxílio com os equipamentos necessários para o preparo da terra e assistência no plantio, até a fase final: a venda do que é produzido para grandes indústrias. É uma comunidade com perfil muito empreendedor. Mas precisa de um conjunto de apoios para acessar grandes investidores e indústrias. Por isso, queremos empoderar o agricultor familiar, dar o apoio que ele precisa para ser dono da terra dele, para plantar, para colher, para cuidar da plantação e garantir a compra do produto”, explica a CEO da Amazon People.


O projeto já tem como parceiros a Natura e a Oakberry, que utilizam os insumos da floresta em seus produtos, e está buscando novos compradores e investidores nacionais e internacionais. As parcerias são necessárias para ampliar o projeto para novas comunidades. Além das quatro espécies principais do SAF, os agricultores também plantam espécies de cultivo mais rápido, de escolha própria e que podem servir como renda imediata ou para consumo. 


Além da capacitação técnica, a Amazon People também quer ajudar na qualificação da comunidade em temas como educação financeira e empreendedorismo. No caso da Vila Jutaí, os moradores enfrentam dificuldades logísticas e de infraestrutura, com problemas de acesso e escassez de serviços básicos. “Tem o treinamento técnico para ele ser um melhor produtor, mas tem um treinamento que é para a comunidade como um todo, em como a gente ajuda essa associação a virar uma cooperativa, como a gente ajuda essa cooperativa a ter mais serviços para a comunidade. Antes de entrar na comunidade, a gente faz uma pesquisa para entender quais são as necessidades da população e o tipo de apoio que a gente precisa garantir”, explica a CEO da Amazon People.


*(A série “Bio Valor” é uma iniciativa da Jornada COP+, que traz reportagens mensais sobre histórias e informações dos principais produtos da sociobioeconomia da Amazônia Brasileira. A  série está alinhada ao programa de sociobioeconomia da Jornada, que  está criando uma plataforma digital que vai medir o valor desta economia no Pará. A plataforma servirá como um mapa das cadeias de produtores, associações, cooperativas e indústrias que compõem o ecossistema da sociobioeconomia do estado. 

A Jornada COP+ é um movimento coletivo pela transição justa na Amazônia Brasileira, liderado pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA),  com o apoio da CNI, da Ação Pró-Amazônia, SESI, SENAI, IEL e Instituto Amazônia+21. A iniciativa tem como patrocinadora master a mineradora Vale.)











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